Mt 10:40-42 - Quem vos recebe, recebe a mim...

[ioannesalves]

Amig@s, vamos comentar sobre essa passagem:

10:40 Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 10:41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá recompensa de profeta, e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá recompensa de justo. 10:42 E quem der de beber um só copo de {água} fria a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, amém vos digo que de modo nenhum terá perdido a sua recompensa. 11:1 E sucedeu que, concluindo suas recomendações aos seus doze discípulos, Jesus partiu dali para ensinar e proclamar nas cidades deles. (Tradução de Haroldo)

[ioannesalves]

Pessoal, hoje no NEPE FEPB estudamos essa passagem de Mateus sobre "a recepção", conforme Haroldo nomeia a perícope. E dentre os vários pontos interessantes da questão, um nos chamou muita atenção na parte da tradução, especificamente sobre "o ser" que seria o referente "ao que tinha enviado Jesus", que nós entendemos como sendo o Pai, ou seja, Deus. A reflexão que fizemos foi sobre as formas de tradução diferentes, comparando a versão de Haroldo com a Bíblia de Jerusalém. Abaixo segue a comparação:

10:40 Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. (Versão de Haroldo Dutra).
10:40 Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe o que me enviou. (Versão da Bíblia de Jerusalém).

Pesquisando o trecho no texto grego, encontramos que a palavra em questão para "aquele" e "o" é "tón", que Haroldo traduz como "aquele" e a BdJ traduz por "o". Conforme a sintaxe grega, o "tón" está no caso acusativo e é complemento do verbo "receber". No português, a palavra "aquele" é um pronome demostrativo. Em grego, "aquele" se escreve "ekéinos". Bom, pensando nisso e na questão 1 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec indaga sobre "o que é Deus?", percebemos que na pergunta sobre Deus não há o pronome "quem", pois isso pressuporia uma compreensão de Deus como "pessoa" ou "alguém". Kardec não pergunta "quem é Deus?". O uso de "o que" parece indicar a compreensão muito lúcida de Kardec em relação a Deus, como um "Ser Supremo despersonalizado" e portanto fora de nossas categorias de "indivíduo humano", de "alguém". E o termos grego "tón" (o) como artigo definido usado para referir-se a Deus, parece-nos muito coerente como referência a Deus, por seu caráter de despersonalização, em vez do termo "aquele", que poderia soar mais como "um indivíduo", um ser com quem se tem uma relação pessoal nos moldes das relações entre seres humanos, por exemplo.

Bom, são reflexões muito interessantes e sutis e que mostram que o estudo minucioso das Escrituras nos revela detalhes da inspiração superior que estava por trás da redação desses textos evangélicos.

Grande abraço!

*

João.

[Manu]

Muito legal João.

Queria me deter apenas em um aspecto que me veio a cabeça fazendo a leitura do que você colocou:

Sempre quando pensamos em Deus, trazemos ele a nossa imagem, ou seja, imaginamos com o nosso corpo físico. Kardec para não personifica-lo, coloca a pergunta desta forma, se referindo a "o que" e não "quem" nos abre um campo para a imaginação. E esta imaginação se limita aos sentidos humanos.

Hoje, estamos corporificados aqui com a matéria que nos é necessária para vivermos no planeta terra. Assim, como em planos mais ou menos densos, nosso perispírito passa por modificações até a completa depuração. A cada degrau que subimos na escala evolutiva, nós deixamos um "peso" para trás, para "subir" precisamos amar. E para facilitar nosso entendimento sobre a evolução do espírito, Kardec nos trás a Escala da Evolução Espiritual e divide em três ordens que são: Terceira Ordem: Espíritos Imperfeitos; Segunda Ordem: Espíritos Bons e Primeira ordem: Espíritos Puros.

Mas para ilustrar meu raciocínio, vamos direto a primeira ordem, os Espíritos Puros no qual ele diz:

Os Espíritos que a compõem percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.

Ou seja, além das alterações morais que sofremos, o aperfeiçoamento dos sentimentos, passamos por modificações em nosso corpo espiritual caminhando para corpos mais sutis.

Sobre isso, me lembro que li no livro Cartas de Uma Morta de Maria João de Deus, psicografado pelo Chico um trecho interessante sobre os saturninos, que estão em um patamar mais elevado que nós e destaco o capítulo "Mediunidade Generalizada:"

Aqui ainda existe o colégio sacratíssimo da família, que se reúne sob os imperativos das afinidades naturais. Chegados a certa idade, os saturninos ouvem os espíritos, seus irmãos das outras esferas do sistema, existindo entre eles a mais poderosa mediunidade generalizada. Conhecem todas as combinações fluídicas requeridas ao seu bem-estar, e a eletricidade e a mecânica não têm para eles segredos, sabendo utilizar-lhes as forças com plena consciência das usas possibilidades.
Também estão ao par do que ocorre nos outros mundos e todo habitante de Saturno pode calcular com precisão matemática, de um momento para outro, a posição dos satélites dos outros planetas, respondendo com acerto qualquer arguição nesse sentido. Conhecem a história e os fenômenos dos globos cometários que lhes são familiares, e sabem medir a paralaxe das estrelas mais próximas, conservando uma vasta ciência das coisas do céu.

Então vemos que pela evolução dos Saturninos, além da diferença de corpos que possuem, necessária para habitarem outra esfera, vemos os sentidos sendo despertados.

Hoje a mediunidade na terra pertence a todos os seres humanos em maior ou menor grau, em Saturno todos os habitantes a partir de certa idade, iniciam o contato com o plano espiritual com mais clareza. Hoje fazemos isso praticamente de forma inconsciente.

Com os sentidos mais aguçados e com menor interferência, nós conseguimos perceber os detalhes. Aqui na terra, temos estas percepções ainda no estado rudimentar. Para alcançar um maior desenvolvimento, precisamos desenvolver nosso coração.

Então, entender o que é Deus e os mistérios da vida em sí fica completamente prejudicado pelos sentidos terráqueos. Para alcançar maiores graus evolutivos, se faz necessário olhar pro lado, ser fraterno e nos livrar dos sentimentos que nos prendem aqui.

Sendo egoístas não conseguiremos compreender o sentido da fraternidade como objetivo de evolução do espírito.

[ioannesalves]

Muito bom, Manu. De fato, ainda estamos muito longe da compreensão pura sobre a essência de Deus. Jesus diz no sermão do monte que "os puros verão a Deus", e os Espíritos Superiores em "O Livro dos Espíritos" dizem que para a compreensão sobre a natureza de Deus é preciso que desenvolvamos um "sentido", e esse "sentido" só despertaremos no estado de Espíritos Puros.

Abraços!

[olga miranda]

Bom dia,

Somente para ilustrar sobre a questão relativa ao períspirito ante a pergunta 186 do LR:

"Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o períspirito?
Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse é o estado dos espíritos puros.

[Manu]

Obrigado Olga pelo seu esclarecimento. Farei a correção na minha postagem!